LICENÇA PATERNIDADE DE 40 DIAS EXISTE NO BRASIL - Pai de Verdade
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A licença paternidade no Brasil ainda é um dos motivos pelos quais homens não conseguem estabelecer um vínculo de mais proximidade com seus filhos. Já pensou numa pausa de 40 dias do ambiente de trabalho? Pois é. Isso é possível em poucas empresas no país e localizamos pais que tiraram o período para colocar a “mão na massa” e “cair em campo” mesmo diferente do que muita gente comenta até nas redes sociais em que alguns homens usariam esse tempo para “férias” e sobrecarregar as mães. Sabemos que esse comportamento ainda é uma minoria e as pesquisas revelam isso, mas vamos em frente debater o assunto. 

Em Pernambuco não existe registro de empresas que tenham esse benefício de 40 dias e remunereado disponível a parentalidade. O blog Pai de Verdade apurou junto a órgãos que poderiam ter esses dados. No Brasil essa realidade da licença paternidade é diferente e bem dura para muitos que já despertam em querer estar mais perto das crias. Para ter direito ao benefício de cinco dias para a maioria esmagadora ou 20 dias basta comunicar o nascimento ou obtenção da guarda do filho, apresentando a certidão de nascimento ou documento que comprove a natalidade. 

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Segundo a ONG Pro Mundo o maior período de licença paternidade no mundo é na Suécia com um total de 68 semanas remuneradas que podem ser divididos entre pai e mãe. O pai tem direito a 10 dias consecutivos, nos primeiros três meses, mais 30 dias não consecutivos, no primeiro ano. 

Conversamos com dois pais que usufruíram de 40 dias de licença-paternidade nas empresas nas quais estão trabalhando. E leia o relato dos dois na entrevista para o Blog Pai da Verdade.

Vittor Donato e filho nascido em 11/08/2021 – Crédito: arquivo pessoal

Entrevista Vittor Donato, analista de marketing Brasil da Natura

O funcionamento do berçário na empresa do Vitor é das 5h-20h e não existe uma determinação de horas que precisa deixar a criança. Segundo a Natura, são 300 vagas disponíveis para quem precisar deixar as crianças sob cuidados enquanto trabalham. 

Ainda de acordo com a empresa de perfumaria, “atualmente temos uma ocupação muito próxima do 50% de capacidade, mas estamos em um período de retomada de aproveitamento do benefício. A proporção atualmente está em 60% utilização pelas mães e 40% por pais”. 

Em entrevista ao Blog Pai de Verdade o Vittor disse que ao chegar no trabalho, ele consegue deixar o filho por volta das 8h/8h30 e sai às 18h e em casos raros até às 20h. Diferente de sua vivência com o pai que não foi tão presente, ele sempre se cobrou para ser participativo.

Para a licença paternidade, a Natura oferta as opções de cinco, vinte ou quarenta dias de licença parental. Ainda segundo a empresa, o berçário é oferecido às mães que trabalham em Cajamar desde 2013 e a partir de 2019 o benefício foi estendido para os pais colaboradores. No NASP, sede administrativa, desde 2017.

  1. Como foi o tempo da licença-paternidade?

Optei pelos 40 dias ofertados pela empresa e somando os 20 dias de férias vencidas diante do parto normal que antecipou o processo. Então já estava correndo os as férias e somou aos 30 dias de licença paternidade totalizando quase 50 dias. A empresa entende que cerca de 40 dias é o ideal para estabelecer esse vínculo familiar.

  1. Como funciona a estrutura da empresa?

Posso levar meu filho ao ambiente de trabalho e isso me ajuda porque impacta no suporte que posso dar a minha esposa que fica mais “desafogada” para o home office dela e apoia a gente nos custos da casa porque não preciso pagar creche. O ambiente para deixar meu filho é positivo e posso visitar ele sempre que preciso. 

3.Como é o Vittor antes e depois da paternidade?

Uma loucura. Fácil e difícil ao mesmo tempo para responder. Uma mudança louca porque não foi planejado. Realmente é o maior amor do mundo. Quando soubemos deu um certo “baque” e me questionei se estava no tempo certo. Mas a alegria era imensa. Logo que soube que seria pai eu já quis casar com minha esposa porque na época namorávamos. Quis acompanhar todo processo, das consultas a assistir ao parto. Descobrimos a gravidez em janeiro de 2021 e casamos em fevereiro do mesmo ano. Me sinto muito feliz e nunca estamos preparados, mas pesquiso muito para aprender sempre. Mas a gente sente mesmo na hora. Mudei muito como pessoa e pensar no amanhã. Sou um homem muito diferente. 

  1. Percebe diferenças na sua paternidade e ao redor?

Estou num ciclo de pais presentes. Costumam participar e um ou outro menos, mas cada um tem seu jeito. Muito equiparado ao que eu faço e trocamos muitas ideias no almoço de família. A questão de trabalho para outros atrapalha um pouco porque o que me facilita é que a empresa oferta um espaço perto do escritório para ter a presença mais próxima e isso impacta bastante. Mas num todo os homens que conheço estão presentes. 

  1. Divisão de funções

Fica bem equiparada. Durante o dia como fico com meu filho no berçário da Natura (onde trabalho) e com isso ela tem fôlego para conseguir cuidar dos meus outros dois filhos que são meus enteados e dos serviços da casa. E a noite quando chego já vamos trocando a rotina e Gui continua grudado comigo porque dou jantar, banho e boto para dormir. 

  1. Amamentação no trabalho

Após a pandemia passamos pelo processo de adaptação, mas hoje minha esposa tem acesso livre para que o Gui seja amamentado a qualquer momento. Mas a gente intercala com fórmula aqui no berçário e no almoço eu vou lá dou aquele aconchego e a noite ele mama por livre demanda. 

  1. Como percebe essa paternidade no futuro?

Eu não tinha um pai tão presente e me cobrava para que eu fosse. Até hoje procuro entender como alguns homens conseguem ter essa distância e até costumo brincar com minha esposa em dizer que no dia que ela não me quiser eu digo a ela que vai ter que me aturar porque vou dormir no quarto do lado do Gui porque venho visitar ele. 

Essa paternidade distante é uma questão cultural e hoje alguns homens já percebem dessa vivência mais de perto e isso tem um impacto positivo maior na adolescência e a tendência é melhorar. Ser pai presente não é motivo para se orgulhar. É vivenciar sua obrigação e não estou fazendo nada extra do que deveria fazer. 

Com a distância que cresci com meu pai de vê-lo a cada 15 dias eu não construí isso com meu pai, mas quero fazer diferente com meu filho porque eu quero ser o herói dele. 

Em outra empresa, coincidente de perfumaria, entrevistamos o Augusto Mateus Ferreira , Colaborador do Grupo Boticário, pai do Miguel e casado com Mariana.

  1. Como você avalia a licença paternidade para vivenciar a experiência

Ter esse tempo em casa tem sido fundamental sob duas perspectivas. Inicialmente a da mãe, onde graças à licença eu consigo me dedicar integralmente junto com ela aos cuidados do bebê além de dividirmos as tarefas da casa, e posteriormente à do nosso bebê que pode ter tanto a mãe quanto o pai mais próximos nesses primeiros meses de vida onde ele está tendo o seu desenvolvimento cognitivo e motor.

  1. Quem ele era antes da paternidade e se a licença maior faz diferença ao comparar com outros amigos que têm uma licença paternidade de menos tempo

Eu ainda não retornei ao trabalho, estou no meio da licença, mas a primeira diferença que eu já percebo é que certamente minha produtividade no trabalho estaria comprometida pela privação de sono, como nos primeiros meses o bebê ainda está criando uma rotina de sono isso exige um esforço muito grande dos pais, e certamente quando eu voltar ao trabalho isso já deve estar mais ajustado. Tenho amigos que não tiveram a licença e relatam essa dificuldade de concentração devido a isso. Outra coisa que pesa especialmente por ser o primeiro filho é que a família toda (inclusive o bebê) está se adaptando a essa nova vida…

  1. O você acredita que a paternidade pode contribuir para a sociedade?

Sabemos que quando o bebê é criado dentro de uma relação afetuosa o desenvolvimento dele se dá de forma mais completa, e acredito que o papel do pai nessa criação é tão relevante quanto o da mãe. Já não cabe mais aquele papel onde o pai era apenas o “provedor” da casa e exercia seu papel quase que só contribuindo financeiramente. Uma paternidade ativa envolve estar presente em todos os momentos e também buscar conhecimento para contribuirmos da melhor forma na formação de nossas crianças que serão os cidadãos do futuro, se fizermos nosso trabalho direitinho poderemos sim ter uma sociedade mais inclusiva, acolhedora e livre de preconceitos.

  1. Como é a rotina da casa com a organização das funções entre ele e a companheira?

Antes de sermos pais já tínhamos o costume de dividir as tarefas e agora só adaptamos conforme as necessidades do bebê, onde a Mari (esposa e mãe) obviamente precisa ficar mais tempo com ele devido à amamentação e também é responsável pelos cuidados com as roupas, enquanto eu fico com a louça, preparo das refeições, e tento manter a casa organizada. Procuramos fazer juntos o ritual do banho, de estímulos e nos dividimos nas trocas de fraldas, até agora tem funcionado bem.

  1. Como você avalia esse tempo em que você ficou em casa na licença-paternidade?

Como comentei em um post que fiz no Linkedin, a licença parental de 120 dias ainda causa reações de estranhamento em muita gente por acharem que é muito tempo e que o pai ficaria muito tempo “sem fazer nada” o que é até compreensível pois vejo a nossa sociedade ainda no processo de mudança sobre o entendimento da paternidade, há uma geração atrás era muito comum o pai não se envolver tão ativamente na criação dos filhos, mas já enxergo uma evolução nesse sentido e o Grupo Boticário está sendo um agente de mudança muito importante nesse processo de reflexão ao conceder esse benefício aos seus empregados.

Depoimento da Mariana, mãe do Miguel e esposa do Augusto.

Desde de que engravidamos já sabíamos que meu marido teria 4 meses de licença paternidade, e para todo mundo que contávamos, sem exceção, ouvíamos espanto. “Nossa, não é muito tempo?”, “você não tem medo pelo seu emprego?”, “vai cansar de ficar em casa sem fazer nada”, e mais outras incontáveis manifestações de pessoas incrédulas em relação à situação e principalmente, aos benefícios disso tudo.

Posso afirmar, sem medo de exagerar e já peço perdão pelo clichê, mas sem meu marido em casa, eu não conseguiria desenvolver a maternidade como estou conseguindo. Ele divide comigo as responsabilidades do bebê, exercendo sua função de pai, e divide comigo os cuidados com a casa, possibilitando mais tempo de qualidade com nosso pequeno.

Nosso filho e eu temos muita sorte por termos o papai disponível para nós neste início de vida do neném, e da mamãe que nasce em mim, bem como da transformação da nossa família.

Essa proximidade gera uma melhor compreensão do homem para com a mulher nos desafios do puerpério e estreita laços matrimoniais, uma vez que estamos todas na mesma sintonia. Possibilita vínculos entre pai e filho, o que é de extrema importância para a construção de uma relação de qualidade com reflexos no caráter e personalidade de nosso filho.

Vale dizer também que só faz crescer meu amor e minha admiração pelo homem que divide a vida comigo. É impossível não se apaixonar ainda mais ao vê-lo se dedicando aos cuidados com nosso filho e nossa casa.

Então, respondendo aos muitos questionamentos que ouvimos sobre a licença paternidade, sim, cansa e cansa muito, porém “nada” não é nem de perto o que estamos fazendo. Somos muito gratos por essa oportunidade transformadora e de tamanha importância para nossa família, em especial para o nosso neném.

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