O isolamento social decorrente da pandemia da Covid-19 trouxe impactos para o dia a dia de muitas famílias ao redor do mundo e, com as escolas fechadas e empresas adotando o home office, muitos pais precisaram ficar integralmente responsáveis pelos cuidados dos filhos, ao mesmo tempo em que cumpriam com as demandas de seus trabalhos.
A fim de levantar as principais dificuldades encontradas ao longo deste período, a Escola de Pais do Brasil (EPB), entidade sem fins lucrativos que busca aprimorar a formação de pais, educadores e cuidadores, conversou com pais e mães com filhos entre 0 a 17 anos, de três cidades brasileiras: São Paulo (SP), Recife (PE) e Florianópolis (SC).
A pesquisa qualitativa, os pais em home office revelaram que estabelecer rotinas e separar o trabalho da atenção aos filhos foram os principais desafios enfrentados durante o isolamento social, especialmente para aqueles com filhos de até 12 anos, que passaram a ter aulas on-line.
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“A falta de concentração dos filhos, demandando atenção exclusiva dos pais durante as aulas e a dificuldade de lidar com a tecnologia para se adaptarem a essa nova situação também foram pontos levantados pelos entrevistados”, conta José Alberto Wobeto, atual presidente da EPB em âmbito nacional. Já entre os filhos mais velhos, de 13 a 17 anos, coube aos pais monitorar se eles realmente estavam acompanhando as aulas ou utilizando os dispositivos de forma recreativa.
O levantamento feito pela EPB também mostrou que, com a maior adesão ao home office, muitas famílias se reorganizaram na tarefa de educar os filhos. “No geral, o pai ou a mãe que tem o horário mais flexível de trabalho e/ou com mais tempo em casa agrega também a tarefa de cuidar dos filhos. Desse modo, avaliamos que os papéis estão sendo mais compartilhados do que antes, o que gradualmente está trazendo mudanças para o modelo de família patriarcal, no qual a mãe era majoritariamente responsável por esses cuidados”, pontua Wobeto.
Impacto na saúde mental e o que esperar daqui pra frente
Em um segundo momento, o prolongamento do isolamento social trouxe, também, problemas de saúde mental para pais e filhos. Muitos dos entrevistados pela EPB relataram problemas relacionados à ansiedade e à tristeza pela falta de convivência com seus pares.
No geral, os pais afirmaram que passaram a dar maior atenção à necessidade dos filhos menores a fim de proporcionar algum lazer com atividade física e de alguma forma promover encontros entre crianças da mesma idade. Com os filhos mais velhos, o desafio maior foi conseguir resgatar a atenção destes para atividades fora do mundo virtual.
Jane Patrícia Haddad, mestre em educação e psicopedagoga, reforça que os impactos negativos causados pelo isolamento social foram ainda maiores nas famílias de menor poder aquisitivo. “As crianças pertencentes a famílias de baixa renda foram especialmente prejudicadas. Muitas romperam os vínculos com suas escolas, professores e pares, ficando sem acesso a qualquer tipo de atividade. Neste grupo, o número de casos de violência física e simbólica também aumentou bastante”, diz Jane.
Já nas famílias de alto poder aquisitivo, a alta exposição a telas e o acesso a conteúdos indevidos foram os problemas de maior destaque. “Ainda não temos como mensurar com precisão, mas sem dúvida houve um aumento significativo nos casos de ansiedade decorrentes desta junção de fatores, bem como de crianças e jovens com muito medo e terror noturno”, complementa a especialista.
Segundo a psicopedagoga, os impactos e distúrbios de comportamento deixados pelo isolamento social continuarão sendo mapeados ao longo dos anos e as escolas têm um papel central na busca por soluções de como lidar com essas mudanças. “A minha orientação é que as escolas abram espaços de escuta e acolhimento. Mapeiem as necessidades das famílias atendidas e envolvam a comunidade. Somente assim será possível cuidar deste sofrimento que ficou imerso em frente a tanto descaso”, finaliza.
Mais informações sobre a pesquisa
O levantamento conduzido pela Escola de Pais do Brasil foi realizado entre abril e maio de 2021, junto a 12 grupos com pais ou mães de filhos com faixa etária entre 0 a 17 anos, residentes em São Paulo, Recife e Florianópolis, buscando, em sua composição, a representação dos segmentos mais relevantes do público pesquisado.
Os grupos foram segmentados em duas faixas etárias dos filhos, sendo uma de 0-12 e outra de 13 a 17 anos. Entre os pais, também participaram profissionais educadores com experiência na educação de crianças relacionadas às faixas etárias dos grupos correspondentes.
A pesquisa foi encomendada a fim de levantar os principais desafios encontrados na educação de crianças e adolescentes e, assim, potencializar a atuação da EPB, que tem como missão ajudar pais, futuros pais e agentes educadores a formar verdadeiros cidadãos.
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