Levando em consideração as transformações sociais em processo, há uma compreensão de que os cuidados com as crianças não são um papel exclusivamente feminino. Mas, na prática, a divisão de tarefas familiares diárias ainda aponta uma sobrecarga sobre as mulheres. Embora haja homens que cuidam de crianças e se sentem responsáveis por isso, pesquisa realizada no Programa de Pós-Graduação em Psicologia da UFPE, por Patricia Vitória Bezerra Caetano, aponta que a percepção sobre o papel do homem como provedor financeiro interfere na ideia de que homens também cuidam, sendo, portanto, um grande obstáculo na mudança de práticas, no que diz respeito ao cuidado com as crianças.
Buscando saber “em que medida as práticas de cuidado com crianças podem ser entendidas como expressão do exercício dos direitos reprodutivos de homens pais, em direção às relações equitativas entre homens e mulheres”, a dissertação de Patricia Caetano, intitulada “Homens e a divisão sexual das práticas de cuidados com crianças: uma análise a partir da perspectiva feminista”, conclui que a maneira com que os homens exercem seus direitos reprodutivos está relacionada às suas vivências de cuidado, durante a infância. No estudo, orientado pelo professor Jorge Lyra da Fonseca, a autora destaca que “seus contextos de vida (dos homens) mostram que aspectos como estar empregado e conviver no mesmo domicílio que a mãe da criança não é determinante para hipotéticas dificuldades e ausências no cuidado”.
METODOLOGIA | Como procedimento metodológico foram realizadas entrevistas estruturadas com 45 homens pais de crianças com até quatro anos de idade. O objetivo da entrevista foi identificar experiências cotidianas de cuidado, no contexto doméstico; analisar posicionamentos dos homens pais em relação à divisão no cuidado com crianças entre eles e outras mulheres; analisar, a partir das práticas discursivas dos homens pais, os aspectos socioculturais que influenciam no exercício dos direitos reprodutivos. A interpretação das informações produzidas foi de natureza qualitativa, fundamentada na perspectiva da produção de sentidos e práticas discursivas, sob um olhar feminista das relações de gênero.
A faixa etária dos participantes da pesquisa mostrou-se heterogênea: de 21 a 59 anos. Em relação à autodeclaração de cor/etnia, 12 participantes se declararam brancos, 23 se dizem pardos e 10 responderam ser pretos. A escolaridade dos participantes variou entre alguns níveis. Nenhum informou analfabetismo e a maioria declarou ter nível médio completo. A distribuição, quanto à escolaridade, é a seguinte: 6 possuem fundamental incompleto; 2, fundamental completo; 5, médio incompleto; 23, médio completo; 6, superior incompleto; e 3, superior completo.
Quanto aos cuidados diários, os homens responderam, em sua maioria, que as parceiras eram responsáveis por essa tarefa. O sentido de cuidados diários, para os entrevistados, não englobam as práticas diferentes das mais comuns como dar banho, dar comida e trocar de roupa. Entretanto, com relação às questões sobre “ficar em casa quando a criança está doente; buscar na escola; atividades de lazer nos dias de semana e também nos finais de semana”, as respostas caracterizaram uma divisão igualitária entre os gêneros. Com base nas entrevistas, a autora mostrou que as atividades envolvidas em situações eventuais têm a participação do homem, enquanto as atividades cotidianas estão no nível de participação maior da mulher.
“Dois aspectos se destacam no resultado: o primeiro de que, de fato, segundo os participantes, não estão envolvidos em sua maioria, nos cuidados diários; o segundo, de que as ações que envolvem lazer não são entendidas como cuidado”, conclui Patricia. O estudo apontou, ainda, que os participantes da entrevista se reconhecem como responsáveis financeiros da família. Porém, as mulheres também estão envolvidas no provimento da família e, apesar da jornada de trabalho, estas ainda continuam representando o centro do cuidado no âmbito familiar.
com informações da assessoria de imprensa.