Um grupo da Orquestra Criança Cidada (OCC) do Recife, formado por 25 jovens músicos, se apresenta no Vaticano nesta sexta(3) e sábado (4). A proposta do evento em que a OCC participa é sensibilizar o mundo pelo fim da guerra tanto no continente quanto Oriente Médio após os confrontos recentes. Eles estrelam duas apresentações no batizadas de Concerto pela Paz com a presença confirmada do Papa Francisco na plateia. As estrelas pernambucanas se juntam a artistas da Itália, Rússia e Ucrânia. O repertório contém obras brasileiras (como Aquarela do Brasil, de Ary Barroso, e Três Peças Nordestinas, de Clóvis Pereira), dos países em guerra e argentina (Por Uma Cabeza, de Gardel), para homenagear o pontífice.
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Os meninos e meninas selecionados em Pernambuco residem no Coque, bairro com um dos piores índices de desenvolvimento humano da capital, e em Camela, distrito modesto da cidade de Ipojuca, na Região Metropolitana. Os músicos encontraram no aprendizado uma brecha social para reduzir o risco de violências, crime, abandono, indiferença pública, falta de perspectivas comum a crianças e adolescentes da mesma faixa etária em localidades pobres. O grupo estará acompanhado de cerca de 30 instrumentistas russos, ucranianos e italianos, em um mosaico sonoro montado para dotar o repertório do concerto da mesma pujança transformadora da música nas próprias vidas.
O barbeiro de 44 anos e pai da violonista Jéssica, Edson do Monte, conta ao blog que a iniciativa é fundamental para a vida dos jovens. “Muitos poderiam estar desviados no mundo de drogas e dos assaltos. Para a glória de Deus suriu a OCC que faz um trabalho muito lindo. Sempre vejos as crianças passando de farda com seus instrumentos na mão”. Segundo o pai de Jessica, a filha está no projeto desde os 7 anos de idade após passar por seleção a qual ele diz nunca imaginar que ela se apresentaria para pessoas tão notáveis.
Escute (e veja fotos) a homenagem do pai para a filha:
Ainda de acordo seu Edson, a filha que tem 17 anos, o enche de orgulho porque depois de uma caminhada “de luta” ao lado da esposa e mãe de Jessica, dona Maria de Lourdes, é gratificante ver a filha tocar para o Papa Francisco. Ao encerrar a entrevista o pai de Jessica lembra de que devemos ter fé para seguir os caminhos da vida.
A comitiva brasileira é formada por jovens de 14 a 21 anos oriundos de famílias em más condições socioeconômicas. Do garoto cujo irmão morreu assassinado pelo tráfico à violonista filha de pais ambulantes no metrô e à violinista alçada a esteio da família, os músicos enfrentam uma realidade cotidiana marcada tanto pelo desamparo social quanto pelas dificuldades cotidianas em virtude, sobretudo, da pobreza.
São adolescentes e jovens à espera de uma redenção por meio da música a exemplo da trajetória bem-sucedida de um dos ex-colegas do grupo e hoje integrante da Orquestra Filarmônica de Israel, Antonino Tertuliano. Convidado para se juntar à comitiva em Roma, ele faz mestrado em Munique, na Alemanha, e o Recife após convite da Sinfônica de Goiânia.
Na Orquestra Cidadã, os alunos recebem não somente aulas de instrumentos de cordas, sopros e percussão, teoria musical, flauta doce e canto coral, mas também apoio pedagógico, atendimento psicológico, médico e odontológico, aulas de inclusão digital, três refeições por dia e fardamento. Há ainda bolsas para monitores.
Dos 700 jovens atendidos ao longo dos 18 anos do projeto, vários seguiram a carreira artística, optaram por cursar faculdade de música ou obtiveram ajuda para ingressar no mercado de trabalho através de um programa de aprendizagem profissional, além de poderem se especializar nas funções de luthier e archetier, ou seja, construtores de instrumentos e de arcos de madeira para instrumentos de corda.
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