Durante a pandemia, um comportamento já muito frequente entre as crianças e adolescentes foi intensificado. O tempo de utilização de celulares, tablets, computadores e TVs cresceu exponencialmente, em função da necessidade dos pequenos a partir do isolamento social. Conversar com familiares e amigos, realizar tarefas do dia a dia e até estudar foram algumas das principais atividades desempenhadas com tecnologia por eles. Em função disso, também foi intensificada a discussão entre pais e especialistas sobre o “tempo de tela” adequado a exposição de cada pessoa.
Então, quanto tempo de exposição exatamente é adequado às crianças?
Nesta terça-feira (27), comemoramos o Dia do Pediatra e um estudo realizado por uma companhia de tecnologia infantil, SuperAwesome, divulgado no fim do mês de junho, concluiu que crianças de 6 a 12 anos, nos Estados Unidos, estão passando ao menos 50% do seu tempo mexendo em telas diariamente durante a quarentena.
No Brasil, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) recomenda limitar o uso de telas para crianças entre 2 a 5 anos em uma hora por dia; entre 6 e 10 anos, são recomendadas duas horas. E, para os mais velhos, a recomendação é de três horas diárias. Uma rotina que extrapole esses limites pode ser a porta de entrada para a dependência em eletrônicos, mal que atinge cerca de 65% das crianças do mundo todo.
Uma pesquisa do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (USP), baseada em respostas de cerca de 7.000 pais de crianças e adolescentes dos 5 aos 17 anos, mostra que 27% das pessoas dessa faixa etária apresentam sintomas de ansiedade ou depressão em nível clínico na pandemia, ou seja, com necessidade de avaliação profissional.
“De fato, identificamos muitos pacientes, especialmente crianças, que nunca tiveram nenhum tipo de transtorno e passaram a apresentar quadros ansiosos ou até depressivos. Quem já era acometido por algum transtorno, teve uma piora significativa”, afirma Dra. Danielle H. Admoni, psiquiatra da Infância e Adolescência na Escola Paulista de Medicina UNIFESP e especialista pela ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria).
“Em meio ao caos que estamos vivendo, a correria e impaciência fizeram muitas famílias esquecerem que há várias outras maneiras de estimular a criança, e de forma mais saudável, tanto para a mente como para o corpo”, diz Danielle Admoni. Segundo a psiquiatra, é preciso fazer o “desmame das telas”.
Para isso, ela apresenta oito dicas para realizar o “desmame” nos pequenos:
- Deixe a criança entediada. Permita que ela mesma busque a estimulação que seu cérebro precisa. Se notar dificuldade, invente uma atividade com ela. Aos poucos, vá deixando que ela brinque sozinha, evitando criar uma dependência da sua presença.
- Motive seu filho a brincar com algo que não tenha pilhas ou baterias. Vale presentear a criança com um brinquedo novo. Se ela quiser escolher, incentive jogos de construção, massinha de modelar, pinturas, quebra-cabeça com o tema do seu personagem favorito ou até brinquedos artesanais.
- Proponha desafios, como reorganizar seus brinquedos. Peça para seu filho escolher algo que não lhe interesse mais e sugira doar para alguma criança na rua ou para uma instituição. Só vale se seu filho participar deste ato. Será uma excelente oportunidade de ensina-lo a exercer a solidariedade.
- Aposte nos livros. A leitura, que auxilia no desenvolvimento cognitivo, socioemocional e cultural, deve ser introduzida junto com os demais brinquedos como mais um objeto de prazer e de exploração do mundo.
- Caso seu filho não demonstre entusiasmo pelos livros, leia com ele. Além de ser uma oportunidade de estarem juntos, você pode ajudar a criança a desenvolver linguagem, compreensão, imaginação, criatividade, entre outras habilidades que a leitura pode proporcionar.
- Demonstre interesse pelas atividades de seu filho. Pergunte o que ele está fazendo, como está fazendo e se disponha a ajuda-lo no que for preciso. Além disso, elogie suas evoluções.
- Crie uma tabela que estipule o tempo dedicado aos eletrônicos. Coloque metas e seja firme. Não deve haver exceções.
- Não esqueça de dar o exemplo. Evite ao máximo usar o celular quando estiver com seu filho.
“Vale lembrar que é possível que algumas crianças não respondam bem à retirada ou redução das horas de uso das telas. Daí a importância de ter paciência e firmeza, não deixando se levar por manhas ou chantagens. Na realidade, será a intensidade e frequência de protesto por parte da criança que mostrará o quanto essa intervenção é necessária. O mais importante é que este processo seja natural e que a criança perceba que as mudanças propostas são positivas. Se for preciso, não hesite em buscar ajuda de um especialista”, finaliza Danielle Admoni.