Adotado como medida para combater a propagação do novo coronavírus, o isolamento social pode trazer alguns prejuízos no desenvolvimento da fala e linguagem de crianças obrigadas a ficar em casa devido à pandemia, alertam especialistas. A mudança na rotina foi imposta não só na vida das crianças, mas na família como um todo. A implementação do regime de trabalho remoto aos pais, até fez com que eles permanecessem em casa, porém, na maior parte do tempo, focados nas atividades do home office.
Impedidos de ir à escola, ou ter uma saída com os amigos, por exemplo, o uso de equipamentos tecnológicos como tablet, celular e televisão, cresceu entre as crianças e esses fatores também contribuíram para o déficit na comunicação presencial.
A fonoaudióloga Dryelle Azevedo, especialista no assunto, afirma que o aumento do convívio familiar possibilitou que os pais pudessem observar atrasos ou até mesmo uma regressão no desenvolvimento da fala. “Frequentemente tenho recebido pais aflitos com a comunicação dos seus filhos, neste período de isolamento social, os pais estão observando dificuldades tanto na fala, quanto na alimentação das crianças”, comenta Dryelle.
A especialista afirma que é importante que o bebê estabeleça a comunicação muito antes das primeiras palavrinhas. “A comunicação infantil ocorre através das variações entre o choro e o sorriso, permitindo aos adultos entender suas necessidades”, detalha a fonoaudióloga ao reforçar que, além dos sons e palavras, é importante que os pais fiquem atentos ao comportamento das crianças, na interação com outras crianças e com a família.
Ainda segundo a especialista, além da falta de estímulos adequados, excesso no uso de equipamentos eletrônicos, pouca interação com outras crianças, a dificuldade na fala também pode fazer parte de outro conjunto de fatores, como dificuldade auditiva, alimentação, transtorno do espectro do autismo (TEA), síndromes genéticas e dificuldades cognitivas.
A orientação nesses casos, é que, com o diagnóstico precoce, a criança seja acompanhada pelo fonoaudiólogo e que a família mude algumas de suas condutas direcionando-as no estímulo à comunicação de seus filhos.
A especialista recomenda aos pais, que ao perceber um dos sintomas abaixo, procure um profissional especialista:
– A criança não se aconchega como os outros bebês;
– Não troca sorrisos;
– Parece não ter medo ou sentir dor;
– Não percebe as pessoas no ambiente;
– Procura isolamento;
– Não compartilha brincadeiras;
– Não atende quando chamado;
– Não se assusta com sons altos;
– Não apresenta interesse em ter contato com brinquedos, mas gosta de brincar com objetos de casa;
– Fala números e letras, mas não utiliza a fala para solicitar suas necessidades;
Relato paterno
Manoel Cândido, pai de Joaquim, de três anos, percebeu que aos dois anos de idade, seu filho ainda não tinha desenvolvido bem sua fala. Segundo o pai, ele só conseguia falar “Mamãe, papai e Jão (João)”, ele também mantinha pouco contato visual ao falar e chorava muito por não conseguir se comunicar.
Ao perceber as diferenças, os pais decidiram buscar uma profissional no assunto e entender a dificuldade na fala. “Ao chegar no consultório, a fonoaudióloga fez um interrogatório onde questionou coisas desde o nascimento dele, a avaliação durou em média 1 hora e meia”, disse Manoel.
No início do tratamento, Joaquim recebia estímulos 2 vezes na semana e mesmo durante o isolamento social, as consultas permaneceram acontecendo online. “Mesmo ele não se concentrado nos atendimento online, a psicóloga passava os exercícios e faziamos com ele, gravamos e mandamos para ela avaliar isso acontecia todos os dias”, explica Manoel. Esse acompanhamento do profissional é indispensável para o tratamento e evolução do quadro da criança.
Segundo Manoel, pai de Joaquim, o quadro dele hoje é bem melhor, pelo fato deles terem procurado um profissional rapidamente e terem feito um tratamento precoce. “Hoje o nosso Joaquim se comunica e se faz entender em todos aspectos e com certeza procurar um profissional logo fez toda a diferença.”