Conversando sobre o racismo com as crianças - Pai de Verdade
Compartilhe este post!

Uma postagem de um pai nas redes sociais, nesta semana, revela uma cultura ainda que precisamos conversar muito a respeito. O preconceito! E há quem diga que o comportamento é “importado” de outras culturas, a exemplo dos Estados Unidos que ainda sofrem com parcela da população priorizando a cor A e excluindo a B.

O personal trainer, Anderson Santos, traz um relato que indigna muita gente. E a nós também, claro! A dor de um pai em pleno ano 2021, apesar de uma pandemia que insiste em permanecer ao nosso redor, que precisa conviver com determinada situação. O drama da cor da pele. Isso mesmo. A filha dele, Malu de 4 anos, o indagou sobre a sua cor e se seria sempre assim. Arraste para o lado e leia o relato completo. 

Até a publicação deste texto foram mais de 930 curtidas e 298 comentários no instagram do @ASantosPersonal com acolhimento, desacreditados e pessoas insatisfeitas com a situação.

Entre elas, outro relato muito próximo. A personal @Ju_Baracho que passou por situação parecida com a filha de 5 anos. Num trecho ela disse que a criança desejou fazer uma festa com o tema das princesas da Disney “mas ouviu de determinada pessoa q ela não podia ser branca de neve, nem a bela adormecida e nenhuma das princesas, pq todas eram brancas e ela era Preta. F***”, desabafa a personal trainer.

Um estudo do Centro de Desenvolvimento Infantil da Universidade de Harvard, publicado em dezembro de 2020, conclui que episódios diários de racismo, desde ser alvo de preconceito até assistir a casos de violência sofridas por outras pessoas da mesma raça, têm efeitos às vezes “invisível”, mas duradouro e cruel sobre a saúde, corpo e cérebro das crianças.

Veja também: LIVROS ORIENTAM LEITURA COM EMPODERAMENTO PARA CRIANÇAS

O estudo alerta ainda que a longo prazo a situação resulta em custos bilionários em saúde, na perpetuação das disparidades raciais e em mais dificuldades para grande parcela da população em cehgar a pleno potencial humano e capacidade produtiva.

Dados do IBGE de 2010 indicam que 53% dos brasileiros são negros ou pardos. Nos Estados Unidos, as pessoas pretas representam 13% da população.

A consultora em Diversidade Racial da Ubuntu, Dayse Rodrigues, traz mensagens em suas postagens que ressignificam muito a maneira como nos comunicamos.

Conversamos com Dayse Rodrigues que alerta que diante do ocorrido os pais devem ficar em atenção  porque “a criança vai aprender muito com o que a parentalidade vai afirmar. E que diante do ocorrido com o racismo elas (as crianças) têm a tendência em criar o auto ódio e o ódio pelo outro”.

Sendo assim a consultoria em diversidade racioal explica que “isso cria dois problemas gigantes na construção da identidade dessa criança. Portanto, quando isso acontecer procure entender de onde ela tirou isso”. Leia logo a seguir a entrevista completa.

Assista ao vídeo sobre os efeitos do racismo nas crianças.

Entrevista com a consultora em Diversidade Racial da Ubuntu, Dayse Rodrigues.

Como acolher a dor da criança?

A primeira coisa é que nessas horas os pais precisam respirar e lidar internamente com essa questão, antes de qualquer outra coisa. Ela vai aprender muito mais pela reação dos pais, do que pelo o que eles irão dizer.

Os dois principais efeitos do racismo nas crianças negras são: o auto ódio e o ódio pelo outro. Isso cria dois problemas gigantes na construção da identidade dessa criança. Portanto, quando isso acontecer procure entender de onde ela tirou isso, nesse caso, ela fez ligação com a Branca de Neve, ou seja, uma referência pra ela, um desenho. Essa é a idade, 4 e 5 anos, em que as crianças começam a ter percepção sobre sua cor, e sobre não ter as princesas e super heróis parecidos com elas.

Crédito: Conner Baker

Para acolher essa criança reforce a beleza existente na sua cor de pele, no seu cabelo, em cada traço. Sim, vai parecer tantas vezes que você está dando “murro em ponta de faca”, mas continue. Você está construindo a identidade da criança e ela irá internalizar. Crianças aprendem por repetição, aprendem a falar assim, a andar assim. Então, continue repetindo e reforçando a beleza dela, concomitante a isso, busque referências negras positivas pra apresentar a ela cada vez mais.

Como pais e mães devem proceder diante desse cenário?

Aos pais e mães cabem o papel de empoderar sua criança e estar atento a tudo o que pode acontecer ao seu redor.

Se a criança já está externalizando o fato de não querer ser da cor que é já é um indício de que ela está precisando de mais suporte para enfrentar isso e construir sua identidade de forma positiva. Continue apresentando referências negras positivas, continue exaltando a beleza dos seus traços. Bonecos, bonecas, livros, filmes, fortalecer a cultura negra são ferramentas importantes para inserir representatividade.

Se você, pai, mãe ou responsável direto pela criança também são pessoas negras, se pergunte: como eu lido com a construção da minha identidade?

Como diz o ditado: a fala convence, mas o exemplo arrasta. O que você faz tem muito mais influência na criança do que é o que você diz.

Que dicas para orientar crianças?

Precisamos antes de tudo entender que o racismo é estrutural, ou seja, pessoas negras não podem ser racistas, mas podem reproduzir comportamentos racistas. Uma criança, por exemplo, pode reproduzir essa cultura, pois está inserida nela.

Trabalhar a auto estima da sua criança é fundamental para que ela se sinta segura e feliz por ser quem é, pelos traços que tem, cor de pele e cabelo.

Crédito: Getty Images

Duas dicas importantes: se seu filho fizer perguntas sobre a questão racial, responda, não o deixe sem resposta, explique na linguagem que ele pode entender. Outra coisa, deixe claro para a criança que não há nada de errado com ela, e sim, que o erro foi somente da pessoa que o discriminou. É importante frisar isso porque as crianças têm a tendência em se culpar pelo que aconteceu.

Uma ressalva importante, se seu filho ou filha sofrer discriminação racial isso deve ser denunciado, e existem diversos órgãos pra isso: conselho tutelar, ouvidorias dos serviços públicos, OAB e nas delegacias de proteção à infância e adolescência. Não há tolerância para racismo. Ensine sua criança a saber seus direitos e saber se defender.

Maneiras de contribuir para uma infância sem racismo pela Unicef

1. Eduque as crianças para o respeito à diferença. Ela está nos tipos de brinquedos, nas línguas faladas, nos vários costumes entre os amigos e pessoas de diferentes culturas, raças e etnias. As diferenças enriquecem nosso conhecimento.

2. Textos, histórias, olhares, piadas e expressões podem ser estigmatizantes com outras crianças, culturas e tradições. Indigne-se e esteja alerta se isso acontecer – contextualize e sensibilize!

3. Não classifique o outro pela cor da pele; o essencial você ainda não viu. Lembre-se: racismo é crime.

4. Se seu filho ou filha foi discriminado, abrace-o, apoie-o. Mostre-lhe que a diferença entre as pessoas é legal e que cada um pode usufruir de seus direitos igualmente. Toda criança tem o direito de crescer sem ser discriminada.

Crédito: Zach Vessels

5. Denuncie! Em todos os casos de discriminação, busque defesa no conselho tutelar, nas ouvidorias dos serviços públicos, na OAB e nas delegacias de proteção à infância e adolescência. A discriminação é uma violação de direitos.

6. Proporcione e estimule a convivência de crianças de diferentes raças e etnias nas brincadeiras, nas salas de aula, em casa ou em qualquer outro lugar.

7. Valorize e incentive o comportamento respeitoso e sem preconceito em relação à diversidade étnica e racial.

8. Muitas empresas estão revendo sua política de seleção e pessoal com base na multiculturalidade e na igualdade racial. Procure saber se o local onde trabalha participa também dessa agenda. Se não, fale disso com seus colegas e supervisores.

9. Órgãos públicos de saúde e de assistência social estão trabalhando com rotinas de atendimento sem discriminação para famílias indígenas e negras. Você pode cobrar essa postura dos serviços de saúde e sociais da sua cidade. Valorize as iniciativas nesse sentido.

10. As escolas são grandes espaços de aprendizagem. Em muitas, as crianças e os adolescentes estão aprendendo sobre a história e a cultura dos povos indígenas e da população negra; e como enfrentar o racismo. Ajude a escola de seus filhos a também adotar essa postura.

Clique aqui e receba as últimas atualizações sobre o mundo da paternidade direto no seu celular

Deixe um comentário