A licença-paternidade ainda é um período curto comparado com as necessidades reais da maioria das famílias brasileiras. Apesar dos tímidos avanços na lei em 2017 que ampliou de 5 para 20 dias o afastamento do homem de suas atividades remuneratórias, caso esta empresa esteja no Programa Empresa Cidadã, nesta semana foi sancionada a Lei 13.717, de 2018.
A lei sancionada, na última terça (25), publicada no Diário Oficial da União, estabelece que os militares das Forças Armadas – Exército, Marinha e Aeronáutica — terão a licença-paternidade estendida de 5 para 20 dias, vedada a prorrogação.
“Estamos grávidos” é um termo que para muitos homens ainda parece difícil de falar ou compreender. Sempre disse que eu e Joana estávamos grávidos e ouvi/notei/percebi que alguns homens (e acreditem que algumas mulheres) ainda recebiam (ou ainda recebem) a mensagem com certo espanto.
Quando me referia a estar grávido com Joana (@maedverdade), não era porque eu estava gerando Valentina, mas me sentia parte de todo processo que eu pudesse compartilhar (porque #paideverdade não é ajudante) as funções junto a minha esposa e companheira.
Trocar fralda, dar banho, limpar cocô, cuidar do processo de amamentação faz parte da rotina de todo homem que compreende e deseja vivenciar a paternidade. Em nossa cultura sei dos desafios que a sociedade ainda compreender o homem paterno, mas caminhamos por dias mais iguais.
No puerpério não seria diferente vivenciar as divisões de tarefas. Valentina completou 3 anos no dia 18 de setembro de 2018 e continuo desempenhando minhas funções, mesmo que alguns momentos eu esteja cansado (porque não é fácil criar e educar filhos), mas garanto que é a melhor experiência da vida de um ser humano.
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O “Puerpério é o período que se inicia logo após o parto e caracteriza-se pelo retorno do organismo materno para as condições pré-gestacionais.” essa definição consta na página 18 do estudo científico de Fernanda Cavalvanti da Universidade de Brasília. Para todo esse processo de retorno e tudo voltar ao normal e sabendo que se inicia outra fase, por ter passado por ela, acredito ser injusto que a mulher vivencie isso sozinha. Se foi concebido pelos dois por que o pai não participa de todos os momentos?
De acordo com pesquisas recentes, a participação dos pais na criação dos filhos, principalmente nos primeiros dias, entre outros fatores, impacta positivamente o desenvolvimento cognitivo e escolar da criança.
A Natura contribui para a equidade de gênero na empresa e para o fortalecimento nas relações familiares como um todo e concede, desde junho de 2016, até 40 dias a licença-paternidade remunerada a todos os funcionários, inclusive a casais do mesmo sexo e em casos de adoção.
“Decidimos ampliar o benefício porque os 40 dias após o parto fazem parte do puerpério, período em que a mulher se recupera da gestação e enfrenta intensas alterações físicas e psicológicas. A proximidade do pai nesse período é importante para toda a família e, principalmente, para estabelecer vínculo com o bebê”, explica o diretor de remuneração e benefícios da Natura, Marcos Milazzo.
Na empresa o benefício pode se estender até 70 dias, caso o colaborador decida emendar com as férias. Além disso, há mais de 25 anos, a empresa oferece berçário e creche para os filhos das colaboradoras, até completarem três anos de idade, o que permite que as mães amamentem durante a jornada de trabalho e acompanhem de perto o desenvolvimento dos bebês. Para casais homoafetivos em que os dois são colaboradores da Natura, um tem direito a cada uma das licenças (a definição de quem tira a licença maternidade ou paternidade é do casal). Recentemente a empresa passou a oferecer também para os pais e as mães de seus filhos os cursos de gestantes que já eram oferecidos às colaboradoras.
Neste vídeo publicado no instagram fui desafiado por um amigo, o @papainocontrole, para falar um pouco da minha experiência e usar a #QueridoFuturoPapai disseminada recentemente.
Em paises orientais como a China e Coreia do Sul a licença-paternidade pode passar de 50 semanas. Porém, segundo estudos da Organização para a Cooperação de Desenvolvimento Econômico (OECD), apenas 2% dos homens preferem a condição enquanto na Suécia, 90% dos homens preferem as 10 semanas que têm direito para cuidarem dos filhos.
Pai fala sobre a licença paternidade de 40 dias
Entrevista com João Teixeira, coordenador de Sustentabilidade da Natura
- O que tem feito para aproveitar e curtir esse período de experiência?
Esse período foi ótimo para aproveitar o bebê e essa nova constituição familiar, já que é nosso primeiro filho. Também pude aproveitar para fazer algumas coisas em casa que eu ainda precisava: colocar uns quadros, prateleiras e terminar de arrumar o quarto do bebê. A experiência foi ótima, principalmente para aproveitar esse novo momento da minha família e ter essa disponibilidade de tempo com eles.
- Primeiro filho(a)? O que mais tem aprendido?
É o primeiro filho sim. Acho que não tem regra para nada e cada dia é um dia. Não tem tempo para muita coisa não, a gente tem que aprender a trocar fralda, o que o chorinho do bebê quer dizer… Acho que dentro dessa linha a coisa que eu mais aprendi foi a ser pai, coisa que eu não tinha ideia, ter esse convívio, saber cuidar do bebê, entender que a mãe precisa dos seus momentos e estar presente quando é necessário.
- O que pensa da atitude da empresa que desde 2016 opta por uma licença paternidade maior que a maioria das empresas do país?
É uma super atitude e acho que é um benefício impagável. Eu não trocaria por nada a possibilidade de ter esses 40 dias com a minha família. Realmente é um diferencial que a empresa nos dá por ter essa visão de prezar pelo relacionamento e de entender que o pai também deve estar presente nesse momento, nessa construção de vínculo nos primeiros dias do bebê.
- Como são as divisões de funções em casa? Detalhe como você (pai) participa do aleitamento materno.
Eu fiquei com todo o resto. Nesse momento ela ficou bem focada no bebê mesmo e eu fazia jantar, almoço, feira no mercado, lavar louça, por exemplo. Eu fiquei com a função da casa e ela com a função do bebê para amamentar. Eu participava do aleitamento dando um suporte. Então, quando o bebê acorda chorando sou eu quem levanto e pego ele até ela se ajeitar para dar de mamar, na hora de trocar um peito por outro, sou eu quem pego ele para trocar fralda, para arrotar. Minha participação é mais nas pausas do aleitamento e deixar tudo pronto, seja uma fralda ou roupinha separada, esquentar água com algodão para limpar o bebê. É também compartilhando essa experiência com ela, porque no começo da amamentação, que naturalmente demanda mais atenção.
Entrevista com Marcos Milazzo, diretor de Remuneração e Benefícios da Natura
- Que benefícios são notados com essa ampliação da licença paternidade?
A gente percebe uma alta receptividade. A adesão ao programa é um dos indicadores – mais de 200 colaboradores que se tornaram pais tiraram a licença, sendo que 80% deles cumpriram o período de 40 dias. Isso também reflete na pesquisa de engajamento, que mostra um colaborador mais dedicado. Depois que retornam do período, eles fazem questão de nos contar sobre o vínculo que estabelecem com a criança e com o núcleo familiar. O benefício também reflete como a empresa quer ser vista em termos de cultura. Além de ser um diferencial de mercado, o benefício está em linha com uma relação de trabalho mais moderna.
- Que impacto financeiro tem na empresa diante da ampliação da licença paternidade?
Desde o início, a decisão de ampliar a licença-paternidade foi bem recebida pela liderança da empresa, pois o fortalecimento do vínculo com os filhos é um dos propósitos da Natura.
Há mais de 25 anos, a Natura oferece berçário e creche para os filhos das colaboradoras até completarem três anos de idade, o que permite que as mães amamentem durante a jornada de trabalho e acompanhem de perto o desenvolvimento dos bebês. Ao ampliarmos a licença-paternidade, também atribuímos ao pai a importância de estar presente nos primeiros momentos de vida da criança e da família como um todo.
Licença Paternidade – As quase 20 mil instituições que participam do programa ‘Empresa Cidadã’ no Brasil garantem ao funcionário a licença de 20 dias. A lei 13.257 sancioanda em 2016, no Dia Internacional da Mulher, 8 de março, modifica a legislação de 2008 que já concedia a licença-maternidade de 4 para 6 meses. Com a lei nova, a licença-paternidade ampliada (de 20 dias) deve ser solicitada no prazo de 2 dias úteis apís o parto. O pai deve ainda comprovar participação em programas ou atividades sobre paternidade responsável. O curso pode ser feito on line.
Saiba de outros países com licença maior que no Brasil (fonte: Revista Forbes. Dados de 2015)
* Japão: são 52 semanas de licença e salário equivalente a 58,4% do valor integral.
* França: Semanas de licença paternidade remunerada: 28. Pagamento em relação ao salário médio: 24,2%.
* Luxembrugo: Semanas de licença paternidade remunerada: 26,4 (empatado com Holanda). Pagamento em relação ao salário médio: 40%
* Holanda: Semanas de licença paternidade remunerada: 26,4 (empatado com Luxemburgo). Pagamento em relação ao salário médio: 19,3%.
* Portugal: Semanas de licença paternidade remunerada: 21,3. Pagamento em relação ao salário médio: 54,2%.
* Bélgica: Semanas de licença paternidade remunerada: 19,3. Pagamento em relação ao salário médio: 25,7%.
* Noruega: Semanas de licença paternidade remunerada: 14. Pagamento em relação ao salário médio: 90,8%.
* Islândia: Semanas de licença paternidade remunerada: 13. Pagamento em relação ao salário médio: 64,8%.
* Suécia: Semanas de licença paternidade remunerada: 10. Pagamento em relação ao salário médio: 18,9%.
* Finlândia: Semanas de licença paternidade remunerada: 9. Pagamento em relação ao salário médio: 70,7%.
* Áustria: Semanas de licença paternidade remunerada: 8,7 (empatado com Alemanha). Pagamento em relação ao salário médio: 56,4%.
* Alemanha: Semanas de licença paternidade remunerada: 8,7 (empatado com Áustria). Pagamento em relação ao salário médio: 47%.